quarta-feira, 16 de maio de 2012

OS CINCOS REINOS.


1. Como surgiu a divisão dos seres vivos em cinco Reinos?

Não temos a pretensão de abordar o tema de forma exaustiva. Ao contrário, iremos apenas pincelar alguns pontos marcantes da trajetória do desenvolvimento das classificações biológicas.

Aristóteles, o pai da classificação biológica
O filósofo grego Aristóteles (384-322 AC) já classificava os organismos. Seus valiosos estudos são focados nos animais, que eram divididos primeiramente em organismos “com sangue” e “sem sangue”. Delimitou alguns grandes grupos como mamíferos, peixes, aves e insetos, e baleias. As baleias não eram relacionadas aos mamíferos, uma vez que a morfologia era um dos principais critérios adotados por Aristóteles. Ele acreditava que existia uma “escala natural”, na qual todos os organismos poderiam ser agrupados em ordem crescente de complexidade. Essa ideia hoje superada perdurou por muito tempo.


 
Legenda: Busto de Aristóteles.


Lineu, o pai da taxonomia moderna











 Legenda: (a) Representação de Lineu.
(b) Vista de Inverno do Jardim Botânico onde Lineu trabalhava (Uppsala, Suécia).
Autor: Suzana Ursi
Uma das figuras centrais na história da classificação biológica foi o naturalista sueco Carl von Linné, conhecido popularmente em nosso país como Lineu (1707-1778). Seu sistema de classificação abrangia todos os organismos e se baseava nas semelhanças entre eles. Toda a classificação taxonômica moderna utiliza os princípios básicos postulados por Lineu. Foi também o pai do sistema de nomenclatura que utilizamos na atualidade (gênero seguido de espécie). Apesar de todos os avanços propostos por Lineu, uma visão mais estática da natureza perdurou até o século XIX, quando o pensamento evolutivo se tornou foco das discussões biológicas em geral, bem como da taxonomia.

2. Como surgiu a divisão dos seres vivos em cinco Reinos?
Haeckel e a preocupação em representar a relação entre os organismos 

O estudioso alemão Ernst Haeckel (1834-1919) já propôs, em 1866, a figura de uma árvore para representar a relação existente entre três grandes grupos de seres vivos: os animais, as plantas e os proptistas. Essa classificação foi acrescida de um quarto reino, cujo propositor foi o norte-americano Herbert Faulkner Copeland (1902-1968): Monera, que abrigava todos os seres procariontes.
As classificações de Haeckel e Copeland foram utilizadas como base para o clássico sistema de cinco reinos proposto por Whittaker (1969), ainda tão utilizado nos materiais didáticos (saberes escolares) para o Ensino Fundamental, mas considerado bastante ultrapassado segundo os saberes acadêmicos.


Whittaker e a famosa divisão em cinco reinos




Robert Harding Whittaker (1920–1980) é norte-americano e sua carreira científica foi dedicada principalmente à Ecologia Vegetal. No entanto, é mundialmente famoso por sua proposta de divisão dos organismos vivos em cinco reinos.




Legenda: Whittaker, postulante da divisão em Cinco Reinos, mais utilizada em materiais didáticos para o Ensino Básico.

Resumo do desenvolvimento da classificação biológica



3. Visão atual sobre a Classificação biológica: os três grandes Domínios
A possibilidade de sequenciar e comparar o DNA dos organismos teve enorme influência na classificação biológica a partir dos anos 70. O microbiologista norte-americano Carl Richard Woese utilizou o sequenciamento de um gene presente em todos os seres vivos (codifica para o RNA da subunidade pequena do ribossomo) para construir uma árvore filogenética universal, dividindo os seres vivos em três grandes grupos, denominados Domínios: dois constituídos por procariontes - Bacteria (eubactérias - “bactérias verdadeiras”) e Archaea(arqueobactérias - “bactérias primitivas”); e um agrupando todos os seres eucariontes, Eucária.

Legenda. Woese e sua árvore filogenética universal da vida, dividindo os seres vivos em três grandes domínios.



A partir da classificação de Woese, diversos estudos estão sendo desenvolvidos com o objetivo de investigar a relação entre os três domínios. Os estudos mais recentes indicam que as arqueobactérias e os eucariontes tiveram um ancestral comum, sendo evolutivamente mais próximos do que ambos são das eubactérias. Entretanto, como abordado na peça teatral de Machado de Assis “Lição de Botânica” (ao enfocar a discussão sobre o perianto das gramíneas), a ciência tem um caráter extremamente dinâmico, e esse cenário pode ser alterado em virtude de seu avanço.

4. Visão atual sobre a Classificação biológica: relações entre eucariontes
Um trabalho muito importante, que causou grande impacto na comunidade científica, foi publicado por Baldauf na revista Science em 2003. O autor apresenta uma hipótese, em forma de árvore filogenética, para a relação existente entre os principais grupos de eucariontes. Tal hipótese é apresentada na figura a seguir. Notem que alguns grupos não estão detalhados. Optamos por essa apresentação para facilitar sua interpretação, focada em alguns grupos mais conhecidos.

Legenda: Representação esquemática de filogenia de consenso dos eucariotos, baseada na árvore proposta por Baldauf em 2003. Retirado de Wanderley A. e Ayres L.M. Reconhecimento dos grandes grupos de plantas. In. SANTOS, D.Y.A.C.; CHOW, F. e FURLAN, C.M. (Orgs). A Botânica no cotidiano. 1ª. Ed. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2008. 124 p.



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